Os Mangalhos em Serralves

O tamanho do meu pénis erecto é de quase 15cm. E digo quase porque é melhor que dizer que tem mais de 14. Acho que já foi maior. A idade tem-no feito minguar.
Tenho tido, ao longo dos tempos, uma boa relação com o meu pénis. E com os pénis dos outros. Nunca me senti diminuído.
No fundo, tenho-me sentido satisfeito com o pénis que me calhou e não queria ter tido outro. Este tem respondido bem às solicitações. E já criei muita afinidade com ele. Tem-me acompanhado aos longo dos anos e nunca me deixou ficar mal. Mesmo daquela vez…
Quando entrei em Serralves e vi aqueles mangalhos, poderia ter ficado escandalizado, talvez até ciumento, mas não fiquei. Tenho resolvido a vida com o que tenho. Já fui casado. Mais que uma vez. Tive namoradas. Bastantes. Amantes. Amigas coloridas. Umas raparigas com quem fiz amor. Outras com com fodi. Fui à putas. Tive algumas experiências. Brincadeiras. Liberdades. Excessos. Tive filhos. E filhas. Até tive cunhadas e irmãs. Algumas mães. E uma avó. Mas era nova.
Quando entrei em Serralves, não vi nada que já não conhecesse do trabalho de Robert Mapplethorpe. E que não tivesse já visto na vida. Tenho amigos africanos. Cresci a ver A Garganta Funda, Por Detrás da Porta Verde e A História de Joana, para além de outras alarvidades. Mas é como tudo. Umas coisas são assim, outras são assado. Uma vez uma amiga perguntou-me o que é que achava das mamas dela. Eu acho bem, respondi. E ela Então?! Então, tu é que tens que achar. Eu gosto de mamas, ponto disse-lhe. E continuei, mostrando a mão aberta, dizendo Desde as que cabem aqui, até às que têm dificuldade em entrar aqui, disse mostrando então já a mão em concha. Nós somos como somos e temos é de gostar de nós, disse-lhe armado em Deepak Chopra ou outro guru da auto-ajuda.
Antes de ter entrado em Serralves, já tinha visto o Jeff Koons a foder com a Ilona Staller em fotografias ampliadas a tamanho de parede. Não me senti intimidado. Gosto do Jeff Koons. Gosto das fodas de Jeff Koons. Gosto dos cães floridos de Jeff Koons. Gosto da lagosta do Jeff Koons. Gosto, de uma maneira geral, das merdices pop-pindéricas de Jeff Koons. E isso é que me importa.
E também gosto das fotografias do Robert Mapplethore. Das pilas gigantes do Robert Mapplethorpe. Dos rabos do Robert Mapplethorpe. Das Patti Smith do Robert Mapplethorpe. Dos auto-retratos do Robert Mapplethorpe.
Gosto do fetichismo de Robert Mapplethorpe e, ao contrário do Henrique Monteiro, não teria problemas em ir ver a exposição com os meus filhos e falar-lhes sobre o que estavam a ver. Mais dificuldade teria em tentar explicar como é que o Expresso teve o Arquitecto tantos anos como director.
Mas já chega de arte. Hoje é Sábado e quero ver se consigo dar trabalho aos meus quase 15cm.
E fumar um cigarro, enquanto ainda se pode.

[escrito directamente no facebook em 2018/09/29]

A Elipse de Richard Serra

Estou ali parado a olhar para o cão de Jeff Koons. Um enorme West Highland Terrier, florido e cheio de cor.
Devia estar com medo, mas não estou.
Acho que não me vai morder. Tem um ar doce. Doce, cheiroso e brincalhão. Puppy!, digo, alto. Puppy!, chamo-o. Puppy! Mas o Puppy não me liga nenhuma. Continua lá no seu poiso, a olhar Bilbao como se fosse o seu quintal, sem me passar cartão.
Ignora-me.
Ignoro-o.
Desço as escadas e entro dentro da casota de Puppy.
Ainda me viro para trás. Ninguém me segue. Estou incógnito. Isolado. Só.
Encontro a Elipse e sou sugado para o seu maelstrom. Desato a correr. Corro, corro, corro ao longo das suas curvas elípticas. Corro à procura do seu deus. Richard Serra é a santíssima trindade da Elipse. É o pai, o filho e o espírito santo da sua criação.
E continuo a correr. E não páro. Não tenho fim. Não há fim. Não consigo chegar ao seu fim. As curvas sucedem-se umas às outras num eterno devir.
Olho para a parede que me serve de baliza, que me marca o caminho, que me afunila a a existência e vejo uma linha, uma linha que é uma escrita, uma frase, uma texto, uma ideia, uma ordem. É uma bíblia. São aforismos de Yoko Ono, mas não os consigo ler. Estou em movimento perpétuo, não trago os óculos comigo e já não consigo fazer parar as letras que disparam perante a minha vã tentativa de as bloquear. Fogem perante mim como piolhos.
Continuo ali preso, na Elipse de Richard Serra, a correr, a correr e não consigo parar.
Para onde vou?
Bilbao? Adopta-me!

[escrito directamente no facebook em 2018/07/11]