A Volta ao Mundo em Cinco Minutos

Hoje é Quarta-feira, dia vinte e dois de Maio de vinte vinte e dois. É dia feriado em Leiria, dia em que a cidade celebra a criação da sua diocese em mil quinhentos e quarenta e cinco, ano em que Leiria foi elevada a cidade. Nesta mesma altura decorre a Feira de Maio, a maior feira franca do país.
E as notícias do dia de hoje são:
Portugal tem de gastar cinco mil milhões em aviões de guerra ou perde a soberania aérea (Expresso);
Candidatos alinhados na EU, mas não na Madeira (Observador);
Sem resposta dos lares, mais de dois mil utentes com alta ficam nos hospitais (Público);
Alta Velocidade: O importante é que o eixo Lisboa-Madrid não exclua o Lisboa-Porto-Vigo (Diário de Notícias);
Continente tira meio salário a funcionário que ia levar saco de plástico sem pagar (Jornal de Notícias);
Acordo histórico com professores: Tempo de serviço recuperado em dois anos e dez meses (Correio da Manhã);
MP pede absolvição de agentes da PSP em caso de alegada agressão (Jornal i);
RTP está a avaliar ao pormenor entrada de candidatos do ADN na sua sede (Sol);
Marcelo considera ainda não ser momento para reconhecimento da Palestina (Novo);
Balsemão pões vedetas da SIC a render (Tal & Qual);
Mota-Engil vai ao primeiro concurso da alta velocidade (Negócios);
CGD deverá manter posição de quinze por cento após IPO da Fidelidade (Jornal Económico);
Os nossos vinte e seis (A Bola);
Mágoa: Pote e Trincão esperavam ir ao europeu (Record);
Vamos com tudo (O Jogo);
Sondagem: Mais de metade do inquiridos faz avaliação negativa da PGR (RTP);
Navio russo passa cem horas em águas portuguesas (SIC)
Deputados gozam de poder especial, tal como os humoristas, e dificilmente podem perder o mandato por insultos no Parlamento (CNN);
Filho de Betty visita a mãe no hospital escoltado por seguranças (CMTV);
Aguiar-Branco propõe criação da figura do voto de repúdio contra discursos de ódio (TSF);
Governo escolhe militar António Gandra d’Almeida para a Direcção Executiva do SNS (Antena 1);
Espanha, Irlanda e Noruega reconhecerão a vinte e oito de Maio o Estado da Palestina (El País);
Crise diplomática: O Governo manterá a embaixadora em Israel e apoia o procurador que pede a detenção de Netanyahu (El Mundo);
Jordan Bardella em busca de legitimidade e humildade antes do seu debate com Gabriel Attal (Le Monde);
Diplomacia: Reconhecimento de um Estado palestiniano; Israel um país um pouco mais isolado (Libération);
Nova Caledónia: um arquipélago, duas histórias (Le Nouvel Observateur);
Sunak convoca eleições gerais para quatro de Julho (The Times);
Rishi Sunak convoca eleições antecipadas nos degraus de Downing Street debaixo de uma chuva torrencial (The Independent);
Chuva forte deixa região sul do RS em alerta para risco de novas inundações (Folha de S. Paulo);
Sunak convoca eleições no Reino Unido para quatro de Julho, um mês antes do esperado (The New York Times);
O indicado judicial número duzentos de Biden é confirmado, um marco na sua tentativa de refazer o sistema judicial (The Washington Post);
Venda de casas caiu novamente em Abril, depois da alta taxa de hipotecas que danificaram a actividade (The Wall Street Journal).
São dez da noite. Acho que houve uma final de futebol na televisão. Em Lisboa, duzentas pessoas manifestam-se a favor da Palestina. Hoje, vários fotógrafos, fotografaram-me nas ruas da cidade. Jantei Chow Mein de legumes feito em casa. Bebi um tinto de verano. Fumei dois cigarros. Acho que vou ver um filme do Martin Scorsese.

[escrito directamente no facebook em 2024/05/22]

É Agosto, pá!

Sufoco neste calor infernal. Mudo os lençóis da cama dia-sim, dia-não. A minha vontade era mudar todos os dias. Não consigo sentar-me no sofá, forrado com uma espécie de tecido aveludado que me queima o corpo. Tenho os cotovelos queimados de se roçarem no tecido. Não consigo comer. Só bebo. Bebo água, muita água, mas também cerveja, limonada, vinho tinto e branco frescos, tinto de verano, gin, vodka. Se tivesse dinheiro bebia espumante francês caído em cascata pelo corpo nu da namorada. Não tenho dinheiro, nem namorada. As únicas coisas que tenho, é calor e um enorme buraco no bolso das calças. O dinheiro foge-me das mãos como o diabo da cruz. Só o calor fica. E com ele a dificuldade em respirar, em manter os olhos abertos, em conseguir falar com alguém mesmo que à distância dos cem megas que as telecomunicações me prometem.
Os dias são todos iguais e sucedem-se num arrasto lento. Nada se passa que os diferencie. A festa da aldeia continua lá longe, só a música chega cá e me altera os ritmos de sono. Estou a ficar cada vez mais chato e maldisposto. Um tipo irascível.
Cada vez vejo menos televisão. Está tão infernal como o tempo. Falta-me o ar a todo o momento. Já não e a bronquite, é o estar vivo.
Hoje aprendi que o local mais seco do planeta não é um deserto (embora seja deserto), não é Atacama, mas sim os Vales Secos, na Antárctica, um interior seco rodeado de montanhas, um local onde não chove há mais de dois milhões de anos, e onde os ventos ciclónicos constantes, limpam qualquer resto de humidade que ainda possa por lá haver. Esta informação não se aprende na televisão, nos programas da Júlia Pinheiro nem do João Baião e a oferta de dinheiro a rodo (dois mil euros diários, no mínimo), para agarrar os reformados, coitados, que levam vidas miseráveis com as suas pensões de miséria e que, agora, para além da fome, também se derretem com este calor. Alguns deles morrem, para alegria da Segurança Social. Sempre são menos uns euros mensais.
Não era disto que queria falar, mas do que é que queria falar? De nada. De tudo. Um desejo que já não é vontade.
Há cães a ladrar lá fora. Não sei se é por causa da música da festa ou se está qualquer coisa para acontecer. Há sempre qualquer coisa para acontecer. Mas nunca acontece nada. E tudo continua igual. O calor aqui, as chuvas diluvianas no sul da Califórnia, e a seca bíblica nos Vales Secos.
Ligo a televisão, num momento de rara estupidez, e dou de caras com Miguel Morgado, personagem de gestos exuberantes e uma voz gritada, em defesa neo-liberal da vida portuguesa. Desligo a televisão e convenço-me que não há nada a aprender por aqui. Procuro um filme na videoteca caseira e preparo-me para levar nas trombas com a escolha de Raging Bull de Martin Scorsese. É para isto que a televisão serve. Para ver cinema em casa, quem não tem a possibilidade de ter uma sala de cinema privativa. Toda a gente devia ter uma. Isso e um salário digno de um ser humano.

[escrito directamente no facebook em 2023/08/21]