O restaurante onde costumo almoçar, um pequeno restaurante, outrora uma tasca velha cheia de ranço e patina agora reciclada gourmet para turista mas com preços simpáticos, não pode ser tudo para a carteira de libras dos ingleses que eles também não são assim tantos e é preciso alimentar a barriga dos pobres portugueses miseráveis até ao tutano, estava fechado com um papel a avisar do imprevisto. Nos dias que correm o imprevisto é Covid-19, mesmo que não o seja.
À hora do almoço e depois de lerem o aviso, toda a gente que trabalha nas redondezas acabou com os testes rápidos da única farmácia existente para respirar melhor e ficarem descansados e poderem regressar a casa, em segurança, ao fim do dia.
Ao final do dia ao passar pelo que era anteriormente uma esplanada cheia de gente a beber e a petiscar era agora uma pequena praça de chão pintado de azul e cadeiras de ferro enfiadas umas nas outras e presas por um cabo de aço, tive saudades de um sítio que não frequentava àquelas horas, ia para casa sem me deter por lá, sem beber uma cerveja nem comer umas moelas, mas naquele momento era o que mais me apetecia fazer. Só quero o que não tenho, só me apetece ter o que não posso. O que mais posso dizer?
Enquanto me afastava pensava em como tudo isto era só para me lixar, a mim. E não vale de nada desenganarem-me destas minhas conclusões. Não serve de nada. Deixem-me, uma vez que seja, amamentar o meu ego. Às vezes também preciso de sentir que sou o centro do mundo. Se não, não vale a pena, nada vale a pena, e mais vale colocar o pé fora do passeio longe da passadeira, em hora de ponta, antes de um jogo do Benfica.
Não almocei. Não irei almoçar enquanto aquele restaurante não voltar a abrir portas. Não é que goste muito dele, não tenho é carteira para outro dos que existem por ali. Esses não são para mim. Conheço o meu lugar. Também podia arranjar qualquer coisa em casa. Mas não seria a mesma coisa. Não tenho paciência para isso. E, já agora, aproveito a ausência da esplanada aberta para emagrecer um pouco. Se não vai lá a bem, vai a mal.
[escrito directamente no facebook em 2021/06/07]