O que mais me incomoda é o cheiro. O cheiro da proximidade da morte. A urina. A flatulência. Os odores exalados do corpo. Os dentes podres e a cair. As feridas que não saram. O sangue que não pára de pingar sobre as carpetes que eu tenho de limpar. A casca das cicatrizes arrancadas para o chão. O vómito provocado pela comida ingerida à força para alimentar um corpo que se quer despedir.
Mas o que mais me preocupa é que isto tudo é uma antevisão do que me espera. Os cheiros serão os meus. O desejo de despedida será o meu.
Repetimo-nos eternamente. De uma forma quase sagrada. Obrigatória. Até desaparecermos todos.
[escrito directamente no facebook em 2017/07/21]